Gosto de observar as pessoas. Não do jeito que as pessoas acham que uma psiquiatra observaria, “analisando” (quem da área “psi” nunca ouviu isso?), mas prestando atenção nos gestos, nos hábitos, e, confesso, criando histórias pra elas. E quando a gente está batendo perna pelo mundo, sozinha, em lugares com hábitos e costumes às vezes tão diferentes dos nossos, ai eu me “esbaldo”. E ai vou vendo coisas interessantes, que me agradam, que me dão nos nervos, que me fazem sentir inveja. Vou contar algumas pra vocês.
1.Cuidando do que é seu
Por esses lugares que ando, aqui na minha vizinhança, não vejo muito a interferência do poder municipal na ruas. Mas o povo cuida. Nos canteiros das árvores das ruas sempre há flores plantadas. Várias vezes vi senhoras com uma pazinha de jardim cavando o chão e plantando alguma coisa. E protegem as plantas, põem cerquinhas ao redor, põem placas pedindo que não deixem os cachorros fazerem xixi ali. Quando as pessoas moram no terreo, cuidam para que haja vasos com flores nos prédios, banquinhos de madeira. Os terrenos baldios são transformados em jardins público ou em hortas comunitárias. Nesse caso creio que é alguma ONG, porque vejo sempre placas indicativas. São ações individuais ou coletivas invejável, porque nosso hábito é esperar que a Prefeitura arrume as coisas.
2. Coisas sem utilidade pra mim pode ser útil pra outro
Super comum passar pelas ruas e encontrar coisas encostadas no muro ou na escada do prédio. São livros, sapatos, brinquedos, roupas e até coisas grandes como móveis e colchões. Quem quiser pode pegar. Alguns põem post it com carinhas risonhas dizendo “free”. Quem já viveu em outros países sabe que isso também é comum por lá. Mas, quando não se põe prá fora itens isolados, se faz venda de garagem na calçada mesmo. Outro dia passei por uma, tinha um espelho lindo. Pena que era muito grande. E também já vi um “shopping rua”, como dizia um amigo meu. O cara coloca um pano no chão e sobre ele um monte de quinquilharia, de revistas de quadrinhos a pratos. E vende.
3. Os cachorros
O que é que acontecesse com os cachorros daqui, gente? São educados, não saem puxando os donos, não correm pra encontrar outros cachorros, não saem cheirando as pessoas e, sobretudo, não fazem xixi na rua!!! Acho que vou trazer os meus pra fazer um estágio por aqui. Chegam a ser mais educados do que as crianças! Outro dia, por exemplo, eu estava tomando um sorvete por aqui por perto e observei: uma mãe chegava na sorveteria com duas crianças, que logo correram, passando na frente de todo mundo, pra escolher o sabor. Enquanto isso, uma senhora passa com um poodle grande e, ao entrar em uma loja de comida, se vira e diz alguma coisa pra ele. Calmamente coloca a guia num banco que tinha na entrada (não amarra!). Ele se deita e fica olhando pra dentro, esperando mansamente ela voltar. Tenho inveja, confesso.
4. O mais útil acessório de um carro: a buzina
É de dar nos nervos. Um carro não sai imediatamente após o sinal abrir, o de trás mete a mão na buzina; um carro vez uma manobra pra estacionar mais lento, os que vem metem a mão na buzina. É irritaaaaaaannnnte!!!! Eu que não uso nunca a buzina do meu carro, nós que fazemos piada com paulista que gosta de buzinar nos túneis, morro de susto cada vez que esses caras fazem isso. E as ambulâncias e bombeiros? Um completo exagero de sirenes altíssimas e sem parar. Sei não, viu…
Falando em carro, olha que interessante esse protetores que eles colocam no parachoque e ao redor da placa. É que, como os edifícios raramente tem garagem, a norma é estacionar na rua. E assim protege-se os carros na hora de estacionar.
5. Com fios nos ouvidos
A primeira vez que vim por aqui, me impressionou o número de pessoas andando na rua com um copo de café na mão. Não era levando pra algum lugar, era tomando em pequenos goles. Pois agora a moda é andar conversando ao telefone. A primeira vez que notei foi quando uma senhora, na hora de passar por mim, falou alguma coisa. Ora, só tinha eu e ela na calçada, ela só podia estar falando comigo. Ai eu, “excuse me?” E ela passou por mim, continuando o papo dela. Claro que fiquei morta de vergonha e dai comecei a observar como isso era frequente por aqui. As babás que passeiam com as crianças no parque, a moça dos correios, os trabalhadores das obras (muitos conversando em espanhol), enfim, chega a ser engraçado quando, de longe, a gente vê o povo falando sozinho.