Ainda o São João na Paraiba

Patos é uma cidade rodeada de serras e serrotes, cujo conjunto o pessoal chama de “Espinharas”, apesar de esse ser o nome do rio principal. E tem umas formações rochosas únicas, chamadas inselbergs, que são afloramentos rochosos sem vegetação, em meio a uma planicie semi-arenosa.

Saindo de Patos rumo a essas serras, subimos para Teixeira, uma cidadezinha lá em cima. Mas no meio do caminho tem a Pedra do Tendó, um lugar com uma vista magnífica de toda a planicie abaixo e os inselbergs, sendo que ela tembem é um deles. É uma coisa doida de linda. Tinha tudo para ser explorada turisticamente, na perspectiva de um turismo ecológico.

Paisagem que se descortina da Pedra do Tendó e alguns inselbergs
Visão lateral da Pedra do Tendó

Aqui há um bar-restaurante que serve comida típica da região como rubacão, buxada, galinha torrada, arroz de graxa. Mas o melhor é ir nesse lugar em um dia de semana, garantindo que não esteja lotado de gente com seus indefectíveis carros com porta-malas abertos e barulho. Apreciar uma paisagem daquela requer no mínimo o Bolero, de Ravel. Infelizmente nós fomos em pleno fim de semana e a “mundiça” estava toda lá. Mas eu ainda volto.

Teixeira é uma gracinha. Cidade muito pequena, estava toda enfeitadinha pra seu S. João. A Prefeitura estava linda

A foto abaixo representa uma quadrilha de verdade, do tempo em que dançar quadrilha não era um espetáculo de show business, com coreografia e roupas iguais. Quadrilha era isso ai: um “casamento” matuto e cada um se arrumando como queria porque ninguem vai a um casamento com as roupas iguais. Detesto essa coisa de “no meu tempo é que era bom”, mas não há como não se entristecer com a espetacularização da cultura popular.

E essa cidade toda arrumadinha pro S. João não deu ibope. O senhor do hotel nos disse que o movimento estava muito fraco…

Descemos a serra e ainda encontramos mais essa beleza da Natureza. Me lembrou muito o Monumento aos Bandeirantes, de Becheret.

No dia seguinte rumamos para João Pessoa encontrar umas amigas e voltamos pra Natal com a sensação de ter visto muita coisa linda, mas nada do nosso S. João. Uma amiga ainda nos disse: “se queriam S. João por que não foram pra Campina Grande, o maior S. João do mundo?” Ora, justamente porque não queriamos o maior S. João do mundo. Mas parece que só existem mesmo maiores são joões do mundo…

São João na Paraiba

Fazia muito tempo que minha amiga Fá me cantava para um S. João no interior, para encontrar umas festas autênticas, com um bom forro de sanfona, zabumba e triangulo, além de engordar alguns quilos com as delícias de milho. Este ano topei. Adoro as festas juninas, acho mais alegre e divertidas que as festas de fim de ano, que prá mim tem um quê de melancolia.

A idéia era irmos de carro até Patos, na Paraíba, nos hospedarmos lá e dali ir passeando pelas cidades vizinhas. Além disso queríamos ver o sertão “reverdecido” com as chuvas, fazendo frio à noite.

Saimos de Natal rumo a Patos, fazendo esse percurso:

 

A viagem em si já foi um barato total. Saimos cedinho e já paramos para um café no “Coisas da Roça”, um restaurante muito simpático que tem na BR304, no trecho conhecido como Reta Tabajara. Super recomendo.

A estrada estava ótima, a paisagem verde, molhada, com alagados aqui e ali, do jeito que a gente gosta de ver esse nosso Nordeste. Até Acari eu já conhecia, mas lá tomamos uma outra estrada para Parelhas, cidade pequena mas muito arrumadinha. Já tinhamos observado que a “moda” agora é cada cidade ter um portal de entrada. Alguns são ridículos, mas o de Parelhas eu achei muito bonitinho

Mas a grande surpresa foi Equador, ainda no RN, mas quase na PB. A região é meio serra e, no meio do verde da vegetação, afloram umas pedras brancas incríveis. Algumas são recortadas de um jeito, que parece que tem a mão do homem no meio. Outras formam figuras, pelo menos na nossa visão. É uma coisa muito bonita pelo inusitado. Descobrimos que essas pedras são calcários, e existem várias fábricas (?) de cal por ali.

Chegamos a Patos por volta das 2 da tarde e encontramos a cidade em uma agitação só. Toda enfeitada, bandeirinhas, postes cobertos por chitas coloridas, as casas enfeitas com chita, isso tudo com um clima ameno e gostoso. Devia estar uns 28 graus, o que para Patos é inverno brabo.

Mas ai aconteceu a decepção: só na praça que paramos tinham pelo menos uns 3 carros parados, com seus porta-malas abertos e os paredões de caixas de som emitindo um barulho (não posso chamar aquilo de musica) ensurdecedor da pior qualidade. Putz!

Patos é uma cidade de jovens. Possui 3 universidades públicas, 1 instituto tecnológico e algumas faculdades privadas. Isso faz com que haja uma população grande na faixa entre os 18 e os 25 anos. Para uma cidade do interior isso é ótimo, para as festas tradicionais isso é péssimo. O gosto musical dessa garotada é deplorável. Acho que deveria ser obrigatório nas escolas uma matéria sobre iniciação musical.

Por aquela amostra vimos logo que não ia rolar aquele S. João que queríamos, com um bom forro. A propósito me recuso a chamar forró-pé-de-de-serra ao autentico forró. Forró é com sanfona, zabumba e triangulo, o resto é um bando de idiota se remexendo num palco, com as meninas rodando as cabeças e os “cabras” cantando músicas de duplo sentido, geralmente com frases que depreciam as mulheres. Os meninos adoram e as meninas, idiotinhas, nem se apercebem que estão reforçando um machismo decadente.

Ficamos hospedadas no Hotel Souto Maior e quase não arranjavamos onde ficar. Estava tudo lotado. O Souto Maior é um hotel super simples, com 2 andares sem elevador, mas com um pessoal super simpático e tudo muito limpo. Infelizmente o colchão era mole e minhas costas reclamaram muito. Mas estou falando nesse hotel por dois motivos: 1. Na entrada há uma estátua, escultura, imagem, sei lá como se chama, de Frei Damião que é uma coisa pavorosa; 2. nos apartamentos do segundo andar, no meio de toda a decoração espartana, eles fizeram uma coisa linda: decoraram o interior do local dos armários com umas pinturas de estêncil muito gracinha. Outra coisa surpreendente.

Frei Damião
Olha que lindinho

 

Olha esse outro