E quando nos emocionávamos com as belezas da Bélgica, fomos arremessadas dentro de um pesadelo. Saímos do nosso país com aquela sensação “vira-lata” de que no Brasil é tudo ruim, e que “lá fora” tudo é maravilhoso, que podemos andar tranquilas, sem medo de ser assaltada ou sofrer algum tipo de violência. E isso não é verdade. Sentimos na pele.
Estávamos na Estação Central de Bruxelas, na plataforma, esperando o trem para Amsterdã, e fomos roubadas. Ou melhor, furtadas. Alguém deslizou sua mão pelo banco em que estávamos e levou a bolsa de uma de nós. Com todas as coisas. De Passaporte a cadernetinha de anotações. A estratégia foi aquela já conhecida: um cara apareceu, com uma criança pela mão, e pediu uma esmola. Dissemos que não tínhamos, ele saiu. Nesse meio tempo, supostamente, o seu comparsa, levou a bolsa. E ai começou nossa via crucis.
Primeiro problema: não encontramos nenhum policial na Estação. Nenhum. A informação era que eles passavam de vez em quando, mas não ficavam lá. E que devíamos ir até a Central de Polícia, que fica na Grote Markt. Deixamos as malas no guarda-bagagem e lá fomos. Eram pouco mais de 11 horas da manhã quando lá chegamos; eram 2 e meia da tarde quando saímos. Uma longa fila, duas policiais mal-humoradas, irritadas, atendiam na recepção. Depois da fila fomos mandadas para outro local onde outro policial registraria a ocorrência. Esse era mais gentil, mas extremamente minucioso e detalhista.
Segundo problema: com o boletim de ocorrência nas mãos, corremos para o Consulado Brasileiro, para conseguir o Passaporte provisório. Eram 15h00 e o Consulado só funciona até as 13h30. Que fazer? Já tínhamos fechado a conta do Hotel e tínhamos reserva no de Amsterdã. Ficávamos mais um dia ou seguíamos viagem e iríamos no Consulado em Amsterdã? Resolvemos pela segunda alternativa. Voltamos para a Estação e tomamos o trem das 17hs.
Terceiro problema: apesar de Amsterdã ser a capital da Holanda, o Consulado Brasileiro é em Roterdã e a Embaixada em Haia. Assim que, chegamos em Amsterdã a noite, e no outro dia logo cedo (porque também lá só funciona até as 13h30) rumamos para Roterdã. Felizmente o Consulado fica exatamente ao lado da Estação de trens.
Quarto problema: depois de mais uma fila, fomos, enfim, atendidas. E ai, é o seguinte: “a senhora precisa fazer a solicitação pela Internet, trazer cópia de seu ticket de viagem de volta, cópia do boletim de ocorrência e 2 retratos 3×4”. Olhamos uma pra outra, atônitas. Eu tinha visto na Estação uma dessas cabines que tiram fotos instantâneas, portanto a questão das fotos era fácil, mas, como acessar Internet e tirar cópias? “O Consulado não pode disponibilizar uma máquina com acesso a Internet?”, perguntei. “Não, o Consulado não pode fazer nada. E as senhoras se apressem porque hoje é sexta-feira e o expediente termina as 13h30”. Corremos e tiramos a foto. Um guarda nos informou que havia uma copiadora próximo a Estação e lá uma menina super solicita, vendo o nosso desespero, pesquisou onde teria um cybercafé. Tomamos um taxi e chegamos em uma lojinha de vender balas, cigarros, miudezas em geral (em minha terra chamaríamos de “bodega”), com 3 computadores velhos no fundo. Mas felizmente tinha impressora. Navegar pelo Google em flamengo não foi moleza. Conseguimos. Antes do meio-dia estávamos no taxi, de volta ao Consulado. E ai a senhorita recebe todos os documentos e nos diz que temos que voltar as 15 horas, que ela não pode providenciar agora “porque tem uma fila muito grande”. Apesar de fechar o atendimento às 13h30, eles continuam funcionando internamente.
Quinto problema: resolvemos não nos afastarmos muito e ficamos por ali, fazendo hora. Comemos um sanduíche, tomamos uns 3 cafés, corremos da uma chuva torrencial que passou em 10 minutos e finalmente subimos. Porta fechada. Batemos, tocamos o que imaginamos ser uma campanhia, chamamos, e nada. Pânico. Esqueceram de nós? Na recepção do prédio não se tinha o telefone de lá. Continuamos batendo, chamando e uns longos 15 minutos depois alguém abre a porta e nos diz que a campainha está quebrada. Mais espera. A senhorita sem nos informar de nada e a ansiedade subindo. 40 minutos depois o documento está pronto. UFAAAAAAA!!!!!
E só assim pudemos começar a curtir os Países Baixos.
Deste tormento todo nos restaram algumas lições, das quais muitas até já sabemos mas deixamos prá lá. A principal é que não devemos nos separar de nossos bens mais valiosos em uma viagem: o Passaporte e o dinheiro, devem estar o tempo todo colados na gente. Se perdemos ou nos roubam o Passaporte, fica a lição de que é preciso solicitar o documento de autorização de viagem pela Internet no site do Consulado. Pelo menos assim é na Holanda. E fica aqui um desejo de que o Consulado Brasileiro na Holanda tenha um pouco mais de acolhimento com seus compatriotas, porque o que tivemos em Roterdã foi um atendimento burocrático, impessoal e frio.