Quando se extermina uma população

O mais negro pecado da Argentina foi o sistemático e planejado massacre dos habitantes originais das suas terras. Exterminaram, como política de estado, todos os que aqui estavam desde 6 mil anos. Não há população indigena hoje por aqui.

Mas parece que em Ushuaia a coisa foi ligeiramente diferente. Não houve diretamente um extermínio em massa, eles foram morrendo como consequencia da colonização: fome, doenças. Era um povo bonito, caçadores, que viviam nus, por incrível que pareça. Dizem os guias que eles untavam o corpo com gordura de lobos marinhos, o que os protegia do frio. Há uma referencia que eles teriam os braços maiores que as pernas, e a explicação é que eles andavam sempre de barco e por não usarem as pernas, elas atrofiaram. Sei não…

O fato é que hoje em dia existe uma única nativa de sangue puro. Ela vive em Porto Williams, uma ilha perto de Ushuaia, e se chama Cristina Calderon. Deve ter uma idade em torno dos 80 anos.

E, finalmente, os pinguins!!!!

O final do passeio, o grand finale, é a visita a uma pinguinera, uma ilha onde vivem algo em torno de 4 mil pinguins, todos da variação “magallanes” e alguns poucos de outra variação chamada “papua” . É a coisa mais linda que se pode imaginar!!!!!!

O barco para tambem bem pertinho e eles nem parecem se incomodar com isso. Seguem caminhando prá lá e prá cá, como aquele caminhar caindo prum lado e pro outro, continuam nadando, brincando, nem estão ai. E a gente deslumbrada!!!!

A pinguinera
Big Z

Esse ai de patas amarelas e pico vermelho é da variação papua; ele é a cara do Big Z.

Bom, passeio no Canal de Beagle TEM que incluir uma visita a esses moços ai. É lindo, é repousante e deixa-nos todos com um sopro de carinho no coração.

De barco pelo Canal de Beagle

O passeio de catamarã pelo Canal de Beagle valeu cada centavo que pagamos. A cidade de Ushuaia está na margem desse Canal. Se quiserem saber mais sobre ele vejam aqui e aqui.

É um passeio maravilhoso, que dura 5 horas, mas a gente viu coisas que nunca poderiamos ver em outros lugares.

Por exemplo, os lindos lobos marinhos. Fofos, fofos, fofos. O barco para bem pertinho deles e eles ficam nos olhando, com aqueles olhinhos de quem pede carinho. Dá uma vontade enorme de alisa-los.

Olha a carinha dele!
O harém do grandão

Esse marrom escuro que está ai é o macho, “dono” de todas as fêmeas ao redor dele. Precisa ver o jeito como ele se movimenta e pisa, literalmente, em todas. Ah, esses machos não tem jeito mesmo… es de su propria naturaleza…

Castores vingativos destroem o bosque

Anos atrás os caras trouxeram uns castores do Canadá e soltaram nesses bosques. A idéia era comercializar as suas peles. O negócio de peles não prosperou, em compensação os castores sim. De 25 pares, hoje existe uma população de mais de 250 mil.

Pois bem, queriam suas peles e eles se vingaram. Constroem os diques derrubando as árvores e inundam o bosque. Não tem o que se fazer, já que seus predadores naturais não existem por aqui.

E todo mundo fala mal dos pobres castores. Já teve governante que pagava por cabeça de castor que lhe levassem; outro teve a brilhante ideia de inocular um virus que os deixassem cegos… enfim…

E a cada informação dessa, Fatima, com o seu espanhol perfeito, exclamava: “nuestra”!!!

Dique construido pelos castores

No trem do fim do mundo

Claro que tinhamos que ir até o fim do fim do mundo. E para isso,  tomamos um trem. É um trenzinho lindo, estreitinho, que percorre o mesmo caminho que percorria com os presos até 1947. Sim, porque Ushuaia iniciou-se como um povoado ao redor de uma prisão, para onde eram mandados os criminosos reincidentes. E o trem os leva até um bosque, para que cortassem árvores, que serviriam para construção, para mobiliário e para aquecimento. Dai que a floresta tem partes completamente devastadas.

No trem vai um narrador todo o tempo informando as condições em que trabalhavam os prisioneiros, e a gente achou muito engraçado eles dizerem coisas como: “os presos comiam suas rações em latas e não lhes davam talheres!!”, “os presos trabalhavam das 8 às 6 da tarde!!”, enfim, o texto era tão dramático que quase choramos. Coitadinho dos presos!!!!!!

o trem do fim do mundo

O lugar onde para o trem é hoje o Parque Nacional de Ushuaia. É lindo, lindo. Voce olha  prum lado tem os picos nevados dos Andes, olha pro outro, tem umas árvores bonitas, chamadas “lengas”. Ficamos pensando se não era dai que vinha a expressão “lenga-lenga”…

Olha nós ai

Em Ushuaia

Estamos a dois dias em Ushuaia, que os argentinos pronunciam “uçuaia”. É uma cidade maior do que pensavamos e, para nosso desepero, não faz frio nesses dias. Soubemos que há mais de 6 anos não ocorrem dias tão ensolarados, com temperaturas de 17, 19 graus. E nós aqui, com as malas cheias de gorros, luvas, casacos…

Ficamos em um hotel no centro, respirando ácaros, de tão cheio de carpetes, cortinas, colchas. Tentamos trocar mas nos pareceu que aqui não há tantos hoteis turisticos como em Calafate. E fomos ficando. O café da manhã é deplorável, cheio de coisas doces, como gostam os argentinos. De salgado só um queijinho prato insípido. Conheço alguem que ia sofrer, sem nem um ovo mexido pra salgar a boca.

A cidade tem 70 mil habitantes e é um importante centro industrial do sul do país, com a pretensão de se tornar um centro de produção de tecnologia de ponta. É uma cidade livre do IVA, quase uma zona franca.

Olha uma visão dela desde o Canal de Beagle

Ushuaia vista desde Beagle